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Deslumbrados com a eficiência energética

Focar na eficiência energética é tornar inegociáveis os modos de vida contemporâneos.

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Focar na eficiência energética é tornar inegociáveis os modos de vida contemporâneos. Por outro lado, transformar os modos de vida atuais é chave para mitigar as mudanças climáticas e diminuir nossa dependência de combustíveis fósseis.

Políticas de eficiência energética

Eficiência energética é um dos pilares das políticas para a redução das emissões de carbono e dependência de combustíveis fósseis no mundo industrializado. A União Europeia (UE) estabeleceu um objetivo de atingir 20% de economia de energia através de melhorias na eficiência energética até 2020, e 30% até 2030. Medidas para alcançar esses objetivos da UE incluem a obrigatoriedade de certificados de eficiência energética para construções, padrões mínimos de eficiência energética para produtos como caldeiras, eletrodomésticos, iluminação e televisores, e padrões de emissão de gases poluentes para carros. 1

A UE tem a política de eficiência energética mais progressista do mundo, mas medidas semelhantes estão sendo adotadas por vários países industrializados, incluindo a China. Numa escala global, a Agência Internacional de Energia (AIE) afirma que “a eficiência energética é a chave para garantir um sistema energético seguro, confiável, acessível e sustentável para o futuro”. 2 Em 2011, a organização lançou o Cenário 450, que objetiva limitar a concentração de CO2 atmosférico a 450 partes por milhão. Melhorias na eficiência energética representam 71% da redução de carbono projetada para 2020, e 48% no período até 2035. 2 3

Quais são os resultados?

Melhorias na eficiência energética realmente levam à economia de energia? À primeira vista, as vantagens da eficiência são impressionantes. Por exemplo: a eficiência energética de uma gama de eletrodomésticos que adotaram as diretrizes da UE melhorou significativamente nos últimos 15 anos. Entre 1998 e 2012, geladeiras e freezers se tornaram 75% mais eficientes, máquinas de lavar 63%, secadoras de roupa 72% e lavadoras de louça 50%. 4

No entanto, o uso de energia na UE em 2015 foi apenas ligeiramente menor do que em 2000 (1,627 Mtoe comparados a 1,730 Mtoe, ou megatoneladas equivalentes de petróleo). Além disso, há muitos outros fatores que podem explicar a redução (limitada) no uso de energia, como a crise econômica de 2007. De fato, depois de décadas de crescimento contínuo, o uso de energia na UE decresceu ligeiramente entre 2007 e 2014, para voltar a crescer apenas em 2015 e 2016, com a retomada do crescimento econômico. 1

A nível global, o uso de energia continua a crescer a uma taxa média de 2,4% ao ano. Isso é o dobro da taxa de crescimento populacional, e cerca de metade da população global tem pouco ou nenhum acesso a fontes modernas de energia. Em países industrializados, o uso de energia per capita da população dobrou entre 1960 e 2007. 5

Efeitos rebote?

Por que os avanços em eficiência energética não resultam na diminuição da demanda por energia? Muitas críticas se concentram nos ditos “efeitos rebote”, que vêm sendo descritos desde o século XIX. 6 De acordo com o argumento do rebote, as melhorias na eficiência energética incentivam um maior uso dos serviços que a energia ajuda a fornecer. 7 Por exemplo: o avanço da iluminação de estado sólido (LED), que é seis vezes mais eficiente do que as antigas luzes incandescentes, não levou à diminuição da demanda de energia para iluminação. Em vez disso, resultou em seis vezes mais luz. 8

Em alguns casos, os efeitos rebote podem ser grandes o suficiente para levar a um aumento geral do uso de energia. 7 Por exemplo: a maior eficiência de microchips tornou os computadores mais rápidos que, agora, usam mais energia do que gerações anteriores de computadores que tinham chips menos eficientes. O avanço da eficiência energética em uma categoria de produto também pode levar ao aumento do uso de energia em outras categorias de produtos, ou levar à criação de uma categoria de produtos completamente nova.

Por exemplo: as telas de LED são mais eficientes que as de LCD, e podem reduzir o uso de energia pelas televisões. No entanto, elas também levaram à criação de painéis digitais, que são gigantescos sugadores de energia, apesar de seus componentes energeticamente eficientes. 9 Por fim, o dinheiro economizado nas melhorias de eficiência também pode ser gasto em produtos e serviços que demandam muita energia, o que é uma possibilidade geralmente colocada como um efeito rebote indireto.

Para além do argumento de efeitos rebote

Efeitos rebote são ignorados pela UE e pela AIE, e isso pode explicar parcialmente porque os resultados são muito abaixo das projeções. Entre acadêmicos, a magnitude dos efeitos rebote é uma discussão acalorada. Enquanto alguns argumentam que “os efeitos rebote frequentemente compensam ou mesmo eliminam a economia de energia de melhorias na eficiência” 3, outros dizem que os efeitos rebote se “transformaram em uma distração”, porque são relativamente pequenos: “respostas comportamentais removem 5-30% da economia de energia esperada, chegando a não mais do que 60% quando combinadas com efeitos macroeconômicos – a eficiência energética economiza energia, sim”. 10

Aqueles que minimizam efeitos rebote atribuem a falta de resultados ao fato de que não tentamos o suficiente: “muitas oportunidades de melhorar a eficiência energética ainda são perdidas”. 10 Outros são movidos pela melhoria nas políticas de eficiência energética. Uma resposta sugere que os referenciais sejam expandidos e que analistas considerem a eficiência não de produtos individuais, mas de sistemas ou sociedades inteiras. Nesse ponto de vista, a eficiência energética não está sendo tratada de maneira holística o suficiente, nem contextualizada o suficiente. 11 12

No entanto, alguns críticos dão um passo além. Na sua visão, as políticas de eficiência energética não podem ser fixas. O problema com a eficiência energética, segundo eles, é que ela estabelece e reproduz modos de vida que não são sustentáveis a longo prazo. 1113

Um universo paralelo

Efeitos rebote são normalmente apresentados como consequências “não intencionais”, mas eles são o resultado lógico da abstração que é necessária para definir e medir a eficiência energética. Segundo Loren Lutzenhiser, pesquisadora na Universidade Estadual de Portland, nos EUA, políticas de eficiência energética são tão abstratas da dinâmica diária de uso de energia que elas operam em um “universo paralelo”. 13 Em um artigo mais recente, O que há de errado com a eficiência energética? (What is wrong with energy efficiency?), a pesquisadora britânica Elizabeth Shove revela esse “universo paralelo”, concluindo que políticas de eficiência são “contraproducentes” e “parte do problema”. 11

De acordo com alguns críticos, políticas de eficiência são “contraproducentes” e “parte do problema”.

Para começar, o universo paralelo da eficiência energética interpreta a “economia de energia” de forma peculiar. Quando a UE declara que atingirá 20% de “economia de energia” até 2020, a “economia de energia” não é definida como uma redução real do consumo de energia em comparação com o presente ou com números históricos. De fato, uma definição como essa demonstraria que a eficiência energética não reduz em nada o uso de energia. Em vez disso, a “economia de energia” é definida como reduções comparadas às projeções de uso de energia em 2020. Essas reduções são medidas pela quantificação de “energia evitada” – os recursos energéticos não utilizados por causa de avanços na eficiência energética.

Mesmo que a “economia de energia” projetada seja totalmente alcançada, ela não resulta em redução absoluta da demanda por energia. A UE argumenta que avanços na eficiência energética serão “aproximadamente equivalentes a desativar 400 centrais elétricas” mas, na realidade, nenhuma central elétrica será desativada em 2020 por conta de avanços na eficiência energética. O raciocínio é que a Europa teria que construir 400 centrais elétricas a mais, não fosse o aumento da eficiência energética.

Por essa abordagem, a UE trata a eficiência energética como um combustível, “uma fonte de energia por si só”. 14 A AIE vai ainda mais longe quando alega que “a energia evitada pelos países membros da AIE em 2010 (resultado de investimentos no período de 1974 a 2010), foi maior que a demanda por qualquer outro recurso ofertado, incluindo petróleo, gás, carvão e eletricidade”, assim tornando a eficiência energética “o maior ou primeiro combustível”. 15 11

Medindo algo que não existe

Tratar a eficiência energética como um combustível e medir seu sucesso em termos de “energia evitada” é bem estranho. Primeiro porque isso é baseado no não uso de um combustível que não existe. 13 Depois, porque quanto maior a projeção sobre o uso de energia em 2030, maior seria a “energia evitada”. Por outro lado, se a projeção sobre o uso de energia em 2030 fosse menor que o uso atual (uma redução na demanda por energia), a “energia evitada” se tornaria negativa.

Uma política energética que busca reduzir a emissão de gases do efeito estufa e a dependência de combustíveis fósseis deve medir seu sucesso em termos de redução no consumo de combustíveis fósseis. 16 No entanto, ao medir “energia evitada”, a política de eficiência energética faz exatamente o contrário. Como as projeções do uso de energia são mais altas que o uso atual de energia, a política de eficiência energética assume que o consumo total de energia continuará a crescer.

O outro pilar da política sobre mudanças climáticas – a descarbonização do fornecimento de energia através do incentivo ao uso das usinas de energias renováveis – sofre de defeitos semelhantes. Como o aumento na demanda total de energia supera o crescimento da energia renovável, usinas de energia solar e eólica não estão, de fato, descarbonizando o fornecimento de energia. Elas não estão substituindo usinas de combustíveis fósseis, mas estão ajudando a acomodar uma demanda sempre crescente por energia. Só introduzindo o conceito de “emissões evitadas” é que as energias renováveis podem ser apresentadas como tendo algum efeito desejado. 17

O quê é eficiente?

Em “O que há de errado com a eficiência energética? (What is wrong with energy efficiency?)”, Elizabeth Shove demonstra que o conceito de eficiência energética é tão abstrato quanto o conceito de “energia evitada”. A eficiência é sobre entregar mais serviços (aquecimento, iluminação, transporte etc.) pela mesma quantidade de energia consumida, ou os mesmos serviços por uma quantidade menor de energia consumida. Consequentemente, um primeiro passo para identificar melhorias depende em especificar “serviço” (o quê é eficiente?) e em quantificar a energia envolvida (como sabemos quanto é “menos energia”?). Definir uma referência a partir da qual a “economia de energia” é medida também envolve especificar limites temporais (onde a eficiência começa e termina?). 11

O argumento principal de Shove é que determinar limites temporais (onde a eficiência começa e termina?) automaticamente especifica o “serviço” (o quê é eficiente?) e vice-versa. Isso porque a eficiência energética só pode ser definida e medida se for baseada numa equivalência de serviço. Shove foca em aquecimento doméstico, mas seu pensamento é válido para qualquer outra tecnologia. Por exemplo: em 1985, um avião comercial médio usava 8l de combustível para transportar um passageiro por 100km, um número que caiu para 3,7l atualmente.

Consequentemente, nos é dito que aviões se tornaram duas vezes mais eficientes. No entanto, se fizermos uma comparação entre o combustível usado entre hoje e 1950, e não 1985, aviões não usam nem um pouco menos de energia. Na década de 1960, os aviões a hélice foram substituídos por aviões a jato, que são duas vezes mais rápidos mas, inicialmente, consumiam duas vezes mais combustível. Somente 50 anos depois o avião a jato se tornou tão “energeticamente eficiente” quanto os últimos aviões a hélice dos anos 1950. 18

Se visto num contexto histórico mais amplo, o conceito de eficiência energética se desintegra por completo.

O que é um intervalo significativo para comparar eficiências? Os aviões a hélice deveriam ser levados em consideração ou deveriam ser ignorados? A resposta depende da definição de serviço equivalente. Se o serviço é definido como “voar”, então os aviões a hélice deveriam ser incluídos. Mas se o serviço é definido como “voar a uma velocidade de aproximadamente 1000km/h”, podemos descartar as hélices e focar em motores a jato. No entanto, a segunda definição assume um serviço mais intensivo no uso de energia.

Se formos ainda mais longe no tempo, por exemplo, no início do século XX, as pessoas simplesmente não voavam, então não faz sentido comparar o uso de combustível por passageiro por quilômetro. Observações similares podem ser feitas sobre muitas outras tecnologias ou serviços que se tornaram “mais eficientes”. Se eles são vistos num contexto histórico mais amplo, o conceito de eficiência energética se desintegra por completo, porque os serviços não são equivalentes de forma alguma.

Muitas vezes, não é necessário voltar tanto no tempo para provar isso. Quando se calcula a eficiência energética de smartphones, por exemplo, as gerações mais antigas de celulares (não-smartphones), que demandavam muito menos energia, não são levadas em conta, mesmo que fossem comuns há menos de uma década.

Quão eficiente é um varal?

Por causa da necessidade de comparar “igual com igual” e estabelecer equivalências de serviço, as políticas de eficiência energética ignoram muitas alternativas de baixa demanda energética que frequentemente têm uma longa história mas ainda são relevantes no contexto das mudanças climáticas.

Por exemplo: a UE calculou que os selos de energia para secadoras de roupa serão capazes de “economizar até 3,3 Twh de eletricidade em 2020, o equivalente ao consumo anual de energia em Malta”. 19. Mas quanta energia poderia ser economizada se, em 2020, todos os Europeus usassem um varal em vez de uma secadora de roupas? Não pergunte à UE, porque ela não calculou a quantidade de energia evitada por varais.

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Nem a UE, nem a AIE calcularam a eficiência energética e a energia evitada por bicicletas, furadeiras manuais. Ainda assim, se varais fossem levados a sério como uma alternativa, então a “economia” projetada de energia de 3,3 Twh pelo uso de secadoras mais eficientes não pode mais ser considerada “energia evitada” e muito menos um combustível. Da mesma forma, bicicletas e roupas minam a própria ideia de calcular a “energia evitada” de carros e sistemas de aquecimento central mais eficientes.

Conceitos insustentáveis de serviços

O problema das políticas de eficiência energética é, então, que elas são muito efetivas em reproduzir e estabilizar conceitos de serviço que são essencialmente insustentáveis. 11 Medir a eficiência de carros e secadoras de roupas, mas não de bicicletas e varais, torna inegociáveis as formas mais rápidas – e consumidoras de energia – de viajar e secar roupas, e marginaliza alternativas muito mais sustentáveis. Segundo Shove:

““Programas de eficiência energética são politicamente incontroversos precisamente porque assumem as atuais interpretações de serviço… A busca irrefletida pela eficiência é problemática não porque não funciona ou porque os benefícios são absorvidos, como os efeitos rebote sugerem, mas porque funciona – através do conceito necessário de equivalência de serviços – para sustentar, e talvez aumentar, mas nunca minar… modos de vida cada vez mais intensivos no uso de energia.” 11

De fato, o conceito de eficiência energética facilmente acomoda o crescimento dos serviços de energia. Todas as novidades podem estar sujeitas a uma abordagem de eficiência. Por exemplo: se aquecedores externos e chuveiros de chuva se tornarem “normais”, eles podem ser incorporados a uma política de eficiência energética existente – e quando isso ocorrer, o problema do seu consumo de energia será considerado sob controle. Ao mesmo tempo, definir, medir e comparar a eficiência de aquecedores externos e chuveiros de chuva ajuda a torná-los mais “normais”. Como um bônus, acrescentar novos produtos a essa mistura só irá aumentar a quantidade de energia que é “evitada” através da eficiência energética.

Resumindo, nem a UE, nem a AIE apreendem a “energia evitada” que é gerada por fazer as coisas de forma diferente, ou por não fazê-las – enquanto estas possivelmente têm o maior potencial de reduzir a demanda energética. 11 Desde o início da revolução industrial, houve uma expansão massiva do uso de energia e da transferência da força humana para formas mecânicas de força. Mas mesmo que essas tendências estejam incitando o contínuo aumento da demanda energética, elas não podem ser medidas pelo conceito da eficiência energética.

Como demonstra Shove, esse problema não pode ser resolvido, porque a eficiência energética só pode ser medida em termos de serviços equivalentes. Ela argumenta, por sua vez, que o desafio é “debater e expandir os significados de serviço e explicitamente se comprometer com a forma com que estes evoluem”. 11

Rumo a uma política de ineficiência energética?

Há várias formas de fugir do universo paralelo da eficiência energética. Primeiro, enquanto a eficiência energética atrapalha a redução significativa de demanda energética a longo prazo através da necessidade de equivalência de serviços, o contrário é verdadeiro – tornar tudo menos energeticamente eficiente reverteria o crescimento dos serviços de energia e reduziria a demanda por energia.

Por exemplo: se instalássemos os antigos motores a combustão dos anos 1960 em carros utilitários modernos, o consumo de combustível por quilômetro rodado seria muito maior do que hoje. Poucas pessoas seriam capazes ou estariam dispostas a bancar um carro assim, e não teriam escolha, se não trocar por um carro muito menor, mais leve e menos potente, ou dirigir menos.

Tornar tudo menos energeticamente eficiente reverteria o crescimento dos serviços de energia e reduziria a demanda por energia.

Da mesma forma, se uma “política de ineficiência energética” determinasse o uso de aquecedores centrais ineficientes, aquecer casas grandes nos parâmetros de conforto de hoje seria inacessível para a maior parte das pessoas. Elas seriam forçadas a encontrar soluções alternativas para alcançar conforto térmico, como aquecer apenas um quarto, vestir roupas mais quentes, usar dispositivos de aquecimento individual ou se mudar para uma casa menor.

Pesquisas recentes sobre o aquecimento de construções confirmam que a ineficiência pode economizar energia. Um estudo alemão examinou a performance energética calculada de 3,400 casas e comparou os números com o consumo real medido. 20 Alinhados ao argumento do efeito rebote, os pesquisadores constataram que os moradores de casas mais eficientes (75kWh/m²/ano) usam, em média, 30% mais energia do que o calculado. Por outro lado, nas casas menos eficientes, o efeito oposto – “pré-rebote” – foi observado: pessoas usam menos energia do que os modelos calcularam, e quanto mais ineficiente a casa, maior essa diferença. Nas casas mais ineficientes (500kWh/m²/ano), o uso de energia foi 60% abaixo do previsto.

De eficiência para suficiência?

Contudo, mesmo que abandonar – ou reverter – as políticas de eficiência energética provavelmente trouxesse mais economia de energia do que continuá-la, há outra opção que é mais atraente e poderia trazer ainda mais economia. Para uma abordagem efetiva, a eficiência pode ser complementada por ou, talvez, entrelaçada com uma estratégia de “suficiência”. A eficiência energética tem como objetivo aumentar a razão entre a potência do serviço e o consumo de energia mantendo essa potência pelo menos constante. A suficiência, por outro lado, é uma estratégia que objetiva a redução do crescimento dos serviços de energia. 4 Em essência, seria um retorno às políticas de “conservação” dos anos 1970. 13

A suficiência pode envolver a redução dos serviços (menos iluminação, menos viagens, menos velocidade, temperaturas mais baixas, casas menores), ou a substituição de serviços (uma bicicleta em vez de um carro, um varal em vez de uma secadora, roupas térmicas em vez de aquecimento central). Diferente da eficiência energética, os objetivos de suficiência dessa política não podem ser expressos em variáveis relativas (como kWh/m²/ano). Em vez disso, o foco é nas variáveis absolutas, como a redução das emissões de carbono, uso de combustíveis fósseis ou importação de petróleo. 16 Diferente da eficiência energética, a suficiência não pode ser definida e medida pela análise de um tipo de produto individualmente, porque a suficiência pode envolver várias formas de substituição. 21 Em vez disso, a política de suficiência é definida e medida através do que as pessoas realmente fazem.

Um política de suficiência poderia ser desenvolvida sem uma política paralela de eficiência, mas combiná-las poderia trazer mais economia. O passo chave aqui é pensar a eficiência energética como um meio e não como um fim em si mesma, diz Shove. 11 F Por exemplo: imagine quanta energia seria economizada se usássemos um aquecedor eficiente para aquecer apenas um quarto a 16 graus, se instalássemos um motor eficiente em um carro muito mais leve, ou se combinássemos um chuveiro eficiente com banhos curtos. Mesmo que a eficiência energética seja considerada uma estratégia ganha-ganha, desenvolver o conceito de suficiência como uma força significativa é fazer julgamentos normativos: esse tanto de consumo é suficiente, esse tanto é muito. 22 sso é obviamente controverso, e corre o risco de ser tornar autoritário, pelo menos enquanto houver fornecimento barato de combustíveis fósseis.

Ilustrações por Diego Marmolejo


  1. “Energy Efficiency”, European Commission. https://ec.europa.eu/energy/en/topics/energy-efficiency ↩︎ ↩︎

  2. “Energy Efficiency”, International Energy Association (IEA). https://www.iea.org/topics/energyefficiency/ ↩︎ ↩︎

  3. Sorrell, Steve. “Reducing energy demand: A review of issues, challenges and approaches.” Renewable and Sustainable Energy Reviews 47 (2015): 74-82. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1364032115001471 ↩︎ ↩︎

  4. Brischke, Lars-Arvid, et al. Energy sufficiency in private households enabled by adequate appliances. Wuppertal Institut für Klima, Umwelt, Energie, 2015. https://epub.wupperinst.org/frontdoor/deliver/index/docId/5932/file/5932_Brischke.pdf ↩︎ ↩︎

  5. “Energy use (kg of oil equivalent per capita)”, World Bank, 2014. https://data.worldbank.org/indicator/EG.USE.PCAP.KG.OE ↩︎

  6. Alcott, Blake. “Jevons’ paradox.” Ecological economics 54.1 (2005): 9-21. https://pdfs.semanticscholar.org/f247/b8fae38e0c46bb9d1020b0be0d589db28446.pdf ↩︎

  7. Sorrell, Steve. “The Rebound Effect: an assessment of the evidence for economy-wide energy savings from improved energy efficiency.” (2007). http://ukerc.rl.ac.uk/UCAT/PUBLICATIONS/The_Rebound_Effect_An_Assessment_of_the_Evidence_for_Economy-wide_Energy_Savings_from_Improved_Energy_Efficiency.pdf ↩︎ ↩︎

  8. Kyba, Christopher CM, et al. “Artificially lit surface of Earth at night increasing in radiance and extent.” Science advances 3.11 (2017): e1701528. http://advances.sciencemag.org/content/3/11/e1701528.full?intcmp=trendmd-adv; Tsao, Jeffrey Y., et al. “Solid-state lighting: an energy-economics perspective.” Journal of Physics D: Applied Physics 43.35 (2010): 354001. http://siteresources.worldbank.org/INTEAER/Resources/Sao.Simmons.pdf ↩︎

  9. Young, Gregory. “Illuminating the Issues.” (2013). http://www.scenic.org/storage/documents/Digital_Signage_Final_Dec_14_2010.pdf ↩︎

  10. Gillingham, Kenneth, et al. “Energy policy: The rebound effect is overplayed.” Nature 493.7433 (2013): 475-476. http://environment.yale.edu/kotchen/pubs/rebound.pdf ↩︎ ↩︎

  11. Shove, Elizabeth. “What is wrong with energy efficiency?.” Building Research & Information (2017): 1-11. http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/09613218.2017.1361746 ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎

  12. Calwell, Is efficient sufficient? Report for the European Council for an Energy Efficient Economy. http://www.eceee.org/static/media/uploads/site-2/policy-areas/sufficiency/eceee_Progressive_Efficiency.pdf ↩︎

  13. Lutzenhiser, Loren. “Through the energy efficiency looking glass.” Energy Research & Social Science 1 (2014): 141-151. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214629614000255 ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎

  14. Good Practice in Energy Efficiency: for a sustainable, safer and more competitive Europe. European Commission, 2017. ↩︎

  15. Capturing the Multiple Benefits of Energy Efficiency. IEA, 2014. https://www.iea.org/Textbase/npsum/MultipleBenefits2014SUM.pdf ↩︎

  16. Harris, Jeffrey, et al. “Towards a sustainable energy balance: progressive efficiency and the return of energy conservation.” Energy efficiency 1.3 (2008): 175-188. https://pubarchive.lbl.gov/islandora/object/ir%3A150324/datastream/PDF/view ↩︎ ↩︎

  17. How (not) to resolve the energy crisis, Low-tech Magazine, Kris De Decker, 2009. https://solar.lowtechmagazine.com/2009/11/how-not-to-resolve-the-energy-crisis/ ↩︎

  18. Peeters, Paul, J. Middel, and A. Hoolhorst. “Fuel efficiency of commercial aircraft.” An overview of historical and future trends (2005). https://www.transportenvironment.org/publications/fuel-efficiency-commercial-aircraft-overview-historical-and-future-trends ↩︎

  19. Household Tumble Driers, European Commission. https://ec.europa.eu/energy/en/topics/energy-efficiency/energy-efficient-products/household-tumble-driers ↩︎

  20. Sunikka-Blank, Minna, and Ray Galvin. “Introducing the prebound effect: the gap between performance and actual energy consumption.” Building Research & Information 40.3 (2012): 260-273. http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/09613218.2012.690952 ↩︎

  21. Thomas, Stefan, et al. Energy sufficiency policy: an evolution of energy efficiency policy or radically new approaches?. Wuppertal Institut für Klima, Umwelt, Energie, 2015. https://epub.wupperinst.org/frontdoor/deliver/index/docId/5922/file/5922_Thomas.pdf ↩︎

  22. Darby, Sarah. “Enough is as good as a feast–sufficiency as policy.” Proceedings, European Council for an Energy-Efficient Economy. La Colle sur Loup, 2007. https://pdfs.semanticscholar.org/8e68/c68ace130104ef6fc0f736339ff34b253509.pdf ↩︎